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A parte que deu certo…

Apenas aconteceu: me tornei professor de inglês aos 18 anos. Não tinha essa intenção quando comecei a estudar em um dos centros de ensino de idiomas públicos perto da minha casa. Na época, eu sonhava em fazer faculdade de Medicina nos Estados Unidos. Um sonho grande demais até para quem mora na área nobre de Brasília. Imagine para mim, morador de uma cidade-satélite! Minha mente inocente achava que era possível e, no meu planejamento, eu precisava aprender inglês como um primeiro passo.

A vontade de estudar Medicina passou alguns anos depois, quando eu já cursava o nível intermediário de inglês. Por causa de uma fortíssima infecção de garganta, acabei na emergência de um dos hospitais públicos da periferia do Distrito Federal. E, enquanto esperava para ser atendido, gente baleada sangrando e pessoas com as pernas ou braços fraturados e pendurados passavam por mim. Foi o suficiente para eu desistir de ser médico. 

Mas, graças a Deus, fui até o final com o curso de inglês. Foi uma das melhores decisões que tomei na vida. 

Trabalhei ensinando inglês por anos. Com meus primeiros salários, comprei um CD player quando a maioria das pessoas só sabia o que eram LP´s e fitas K7 (Te perdoo se você não sabe o que é um CD ou um LP ou um fita K7. Para ser breve, são o Spotify e o Deezer de antigamente.). Depois de um tempo, me casei e o inglês se tornou nosso sustento. 

Quando passei em meu primeiro concurso público, o inglês estava lá novamente, fazendo toda a diferença nas provas.

Casado e concursado, Deus resolveu me preparar para ser pastor sem que eu soubesse disso, diga-se de passagem. E mais uma vez o inglês entrou na jogada. Pois os melhores materiais gratuitos sobre teologia, os comentários bíblicos clássicos e muitas obras de referência estavam disponíveis em inglês na internet naquela época, ali pelos anos 2000. Eu era curioso, gostava de ensinar, meu pastor me estimulava e foi assim que esses materiais em inglês acabaram se tornando a minha “faculdade teológica”.

Foi por causa do inglês que fiz minha primeira viagem de avião. Por causa do inglês, pude participar de um Town Meeting com o Vice-Presidente dos Estados Unidos, Al Gore. Por causa do inglês, vi Ronaldo Fenômeno, Roberto Carlos e Ronaldinho no Jogo da Paz em que o Brasil venceu o Haiti por 6 a 0. O inglês me abriu e ainda me abre portas que eu nunca tinha imaginado quando comecei a estudar lá pelos 13 anos.

Relendo o texto, parece até que fui contratado por um cursinho de inglês para fazer propaganda. Mas não fui.  (Embora, se algum curso aí quiser comprar este texto, aceito.). 

O que estive pensando enquanto escrevia é que as nossas escolhas nem sempre vão resultar no que originalmente queríamos. Mas que elas, ainda assim, podem resultar em coisas maravilhosas.

A história de Rute e Noemi me lembra disso. O plano delas era formar uma família feliz em um país próspero. Mas, no meio da execução desse plano, Noemi perdeu o marido e os dois filhos, Rute ficou viúva e a crise financeira atingiu aquele país. O plano fracassou. Mas uma coisa sobrou daquele plano: a amizade e o carinho entre as duas. Foram esses sentimentos – a parte que deu certo de um plano fracassado – que fizeram com que elas tivessem uma nova chance e uma nova vida tão boa ou até melhor do que tinham imaginado no plano que fracassou.

A gente pode fazer muitos planos e eles podem dar certo ou errado. E darem errado não quer dizer que está tudo acabado ou que nosso esforço foi totalmente perdido. Podemos pegar um arroz que, ao cozinhar, virou uma papa e fazer arroz piamontese. Não me leve a mal, achando que estou sendo um otimista tóxico. Estou apenas sendo realista. Nem tudo vai sair como planejamos. Podemos nos sentar e lamentar pelo resto da vida ou ver o que dá para fazer com o que deu certo do nosso plano fracassado.



2 respostas para “A parte que deu certo…”.

  1. Essa semana eu ouvi na missa que o nosso caminho é constituído por fracassos e por coisas que dão certo. Os “fracassos” também são instrumentos para que a vontade de Deus se manifeste de forma plena na nossa vida! E entender isso torna o contar do nosso caminho mais bonito.

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  2. Sua trajetória sempre será uma inspiração. Só desejo muita saúde e paz, que possamos ser vizinhos no mundo celestial. Tenho certeza que sua dedicação e esforço te levaria a viver os sonhos que planejou, apesar de alguns como você mesmo já disse, fogem totalmente de nosso controle se não for da vontade de Deus.

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