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Os dedos das minhas mãos começam a coçar

Os dedos das minhas mãos começam a coçar. Para descrever melhor, as pontas deles coçam. Já sei do que se trata: é saudade de escrever. Não é que eu não escreva o tempo todo e em todos os dias: mensagem no celular, e-mail para empresas, documento em processos, esboço de sermões dominicais e tantas outras coisas.  Mas os dedos coçam querendo escrever uma comida diferente. 

A leitura e a escrita são minhas amigas desde a tenra infância quando, sabe-se lá Deus como, aprendi a ler sozinho ali pelos cinco anos. Na primeira semana de aula, minha professora da primeira série, tia Elizabeth, que andava com alguma dificuldade, provavelmente por causa de um AVC, me levou para a sala da diretora. Não era para dar bronca. A diretora de rosto rechonchudo me entregou nas mãos um livro sobre um tal bicho que morava em uma tal maçã (O Cara: o bichinho da maçã, de Ziraldo) e me pediu para ler o que estava escrito. “Coisa mais boba.”, pensei. Li e fui recompensado com a obrigação de estudar de manhã e de tarde, cursando a primeira e a segunda séries simultaneamente. E, assim, no outro ano, lá estava eu na terceira série. 

Quando os dedos das minhas mãos começam a coçar é porque a mente está lotada de histórias e pensamentos. Ela quer sentar no divã e falar sem limites em associação livre. Ela quer conversar sobre o que viu, o que sentiu e o que achou. A mente inventa, lembra, articula e ressignifica.

Como é de praxe nas relações, às vezes, os parceiros se estranham. A mente pensa e os dedos não escrevem. Ou os dedos querem escrever e a mente se cala. Alguma coisa fica flutuando na cabeça, mas a ligação até os dedos está cortada. É esquisito, preciso reconhecer; entretanto, acontece. 

Porém, quando os dedos e a mente resolvem dançar, as palavras fluem feito riacho no rio e rio no mar. Quando esse caldo livre atinge o oceano lhe causa ondinhas para as crianças brincarem e os adultos se divertirem. Dá para ouvir a calmaria e sentir o aroma da maresia vinda das águas das palavras pensadas e, por fim, escritas. São as palavras tocando naqueles que decidem mergulhar nelas.

Quando os dedos das minhas mãos começam a coçar e a mente está repleta, é hora de voltar a escrever. Para compartilhar com quem deseja ler. E quem sabe aonde essas ondinhas de palavras podem chegar…



2 respostas para “Os dedos das minhas mãos começam a coçar”.

  1. Essas ondas vão longe a depender da intensidade e da frequência com que a fonte as propagam.

    Bom te “ler” de volta rsrs

    Curtido por 1 pessoa

  2. Valeu Fillype… 😉

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